Por muito tempo o Brasil é conhecido como o país do futebol, título que permanece até hoje, ainda que a seleção nacional não vença a Copa do Mundo há quase duas décadas. Afinal, estamos falando de um país pentacampeão mundial, que revelou craques como Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo e Neymar. Porém, hoje, não é um absurdo dizer que a nação se converte cada vez mais em uma potência de outras modalidades: os chamados esports, que nada mais são do que os jogos online no cenário competitivo.
O termo esports é relativamente recente, sendo uma onda que começou há cerca de uma década, mas que atingiu patamares elevados nos últimos anos, com o aumento da audiência, o crescente número de jogadores e a visibilidade na televisão e outros meios de comunicação – atingindo também o mercado publicitário. Em países como Estados Unidos, China, Alemanha e Coreia do Sul, os esports já alcançam níveis altíssimos de importância, e o mesmo vem acontecendo no Brasil.
Não é muito difícil entender por que o Brasil é um mercado potencialmente gigante nos jogos, pelo tamanho da população engajada em games, aliado ao crescente acesso à internet. Segundo um relatório da Newzoo, trata-se do 13º maior mercado de jogos do planeta, sendo o principal da América Latina.
A pandemia impulsionou ainda mais esse crescimento dos esports e jogos digitais no Brasil. Segundo dados da 8ª edição da Pesquisa Game Brasil (PGB), entre 2020 e 2021, houve um salto de 44% para 55% no percentual de brasileiros que conhecem ou praticam alguma modalidade virtual. A audiência cresceu no mesmo ritmo, já que cerca de 53% das pessoas engajadas em esports consomem pelo menos 2 horas de conteúdo de jogos por semana.
Uma fábrica de campeões
Com tantos praticantes, não é surpresa que o Brasil revela alguns nomes reconhecidos mundialmente em diversas modalidades de esports. O jogo em que o país mais se destacou nos últimos anos foi, sem dúvida, o Counter-Strike: Global Offensive.
O primeiro grande titulo brasileiro no CS:GO veio em 2016, no Major (nome dado aos torneios mais importantes do circuito competitivo) de Columbus, com a equipe Luminosity. O time era formado por nomes como Gabriel “FalleN” Toledo, Fernando “fer” Alvarenga, Epitácio “TACO” Melo, Lincoun “fnx” Lau e Marcelo “coldzera” David,jogadores que seguem no topo do cenário competitivo até hoje em equipes internacionais e também estão entre os mais bem pagos da história da modalidade, segundo o site Esports Earnings.
No poker online, que também pode ser considerado uma modalidade de esports, o Brasil tem mais de 20 competidores no top 100 do ranking mundial, inclusive o atual líder, o catarinense Bruno Volkmann, e o ex-líder, o paranaense Yuri Dzivielevski (campeão do World Series of Poker Online em 2020), novo integrante do team partypoker. Só nos últimos 3 meses, os jogadores do país faturaram mais de US$ 19 milhões em competições online do esporte da mente, o que mostra a dimensão do tamanho deste mercado a nível nacional.
Outras modalidades em que o Brasil já fez campeões mundiais são o Magic: The Gathering, com Paulo Vitor “PVDDR” Rosa, que conquistou o título em 2020, e o Free Fire, com o Corinthians conquistando a World Series em 2019.
Equipes se profissionalizando
O Corinthians é apenas um exemplo de equipe conhecida pelo futebol que também investe em times virtuais. Essa já é uma realidade em diversos clubes, como Flamengo, Santos, Vasco da Gama, Cruzeiro, Sport, Goiás, Atlético Mineiro, entre outros que apostam em modalidades como FIFA, League of Legends, Valorant, CS:GO, Rainbow Six Siege, Free Fire, PES e PUBG.
Porém, o cenário nacional de equipes vai muito além dos clubes de futebol. Existem centenas de times espalhados pelo país, fornecendo infraestrutura, capacitação e patrocínios para que os jogadores desempenhem em alta performance. É o caso da Furia Esports, que surgiu em 2017 e hoje é uma das maiores referências em esportes eletrônicos no país.
O crescimento é tanto que grandes empresas também apostam nos esports e apoiam equipes no Brasil, casos da Vivo, Submarino, Kabum, Kalunga e outras marcas – além daquelas que adquirem cotas de publicidade nas transmissões em televisão e plataformas de streaming, por exemplo. Torneios como o Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL) registram altos índices de audiência na TV fechada, além de encherem arenas pelo país.
O futuro dos esports no Brasil
Apesar do patamar já atingido por muitos jogadores e equipes brasileiras, não é exagero dizer que este crescimento de esports está apenas no começo – e o futuro é ainda mais promissor. Cada vez mais, os jovens passam a enxergar os jovens também pelo viés financeiro, visando uma carreira de muitos anos no cenário competitivo, como acontece em qualquer esporte. Porém, ainda é necessária uma regulamentação do ponto de vista trabalhista para dar mais segurança aos jogadores que pretendem viver exclusivamente da atividade
É natural que os esports ganhem ainda mais espaço na mídia nos próximos anos, o que deve atrair ainda mais empresas e movimentar todo o ecossistema de jogos – incluindo também o mercado de desenvolvimento de jogos e produção de equipamentos eletrônicos. O próximo passo é aumentar o número de transmissões na TV aberta, o que ainda é um grande tabu. Porém, não se surpreenda se as exibições de partidas virtuais se tornarem uma tendência na próxima década por aqui…