O ressurgimento das viagens de intercâmbio, um setor que gerou um volume financeiro de R$ 3,7 bilhões no Brasil ao longo de 2022, ultrapassando pela primeira vez os níveis anteriores à pandemia.
Após os obstáculos de natureza sanitária e os desafios econômicos que surgiram, muitos interessados foram obrigados a adiar seus planos. Segundo a Belta, a associação que representa as agências do setor, as vendas de pacotes destinados a pessoas interessadas em participar de programas de intercâmbio aumentaram entre 15% e 20% durante o primeiro semestre deste ano, quando comparadas com o período homólogo.
Caso essa tendência de crescimento seja mantida, é possível que o setor atinja o marco histórico de 500 mil estudantes em 2023. No ano anterior, havia chegado a 455 mil após se recuperar da quase paralisação ocorrida em 2020-21. No ano de 2019, o mercado tinha movimentado um total de 386 mil pacotes, referentes aos programas conhecidos como intercâmbio cultural.
Setor de intercâmbio impulsionado por maior planejamento
Além de retomar os planos que haviam sido adiados anteriormente, o setor está aproveitando o interesse de um público menos afetado pelas variações econômicas. Ademais, o setor observa um aumento de interesse por parte de indivíduos que estão se planejando com mais antecedência.
De acordo com um recente levantamento realizado pela Belta, aproximadamente uma em cada cinco famílias interessadas em programas de intercâmbio têm planos de adquirir um programa para o ano de 2025 ou para os anos subsequentes. “Percebemos que esse público está se antecipando cada vez mais no planejamento”, afirmou a STB, uma das principais agências do país.
Essa agência relatou um impressionante aumento de 35% no volume de programas comercializados nos primeiros sete meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2022.
Essa quantidade engloba a crescente solicitação por programas mais extensos e com custos mais elevados, como um ano de high school na Suíça, com um valor mínimo de R$ 400 mil exclusivamente para o curso em si.
Custos dos pacotes de viagens
Por outro lado, entre os pacotes mais simples de viagens de intercâmbio, como um curso de quatro semanas no Canadá – ainda o destino mais popular entre os brasileiros para aprimorar o inglês –, é possível encontrar opções a partir de US$ 2,5 mil em agências selecionadas. Isso corresponde a aproximadamente R$ 10 mil com a taxa de câmbio atual.
No entanto, sem levar em conta a situação, o investimento total em um programa pode rapidamente dobrar em comparação ao custo inicial, quando se incluem despesas como passagens aéreas, alimentação e eventuais passeios.
Por isso, segundo as indicações dos especialistas, são os grupos de renda mais alta que estão impulsionando a recuperação até o momento. “O mercado está atendendo um público mais elitizado, que não sofreu tanto com a crise econômica”, conforme explicou Alexandre Argenta, presidente da Belta.
Expectativa de intercâmbio para família de baixa renda
A expectativa dos profissionais que atuam no setor de viagens de intercâmbio é que, à medida que a economia gradualmente se estabilize, famílias com renda mais baixa retornem ao mercado. “Anos atrás, chegamos a vender para cabeleireiros e porteiros, que compravam programas para seus filhos, e vaquinha com ajuda da avó”, compartilhou Celso Luiz Garcia, diretor da CI.
Além dos desafios impostos pela crise de saúde decorrente da pandemia, a instabilidade econômica resultante dela nos últimos anos, incluindo inflação, altas taxas de juros e o dólar em alta, impactaram negativamente a demanda nesse segmento. Sendo assim, o executivo observou que o desempenho do mercado ao longo deste ano supera as expectativas traçadas no final de 2022, refletindo a melhoria das condições econômicas.
Portanto, em média, o investimento necessário para um programa de intercâmbio, que inclui aulas e acomodação, ultrapassa os US$ 8 mil. Ao encerrar 2019, essa média girava em torno de aproximadamente US$ 5.900. Uma notícia positiva é que, com a redução na inflação e a valorização do real nos últimos meses, as consultas referentes a programas têm aumentado, inclusive por parte daqueles que já tiveram experiências prévias, afirmam os profissionais do setor.