O tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco deu seu depoimento à CPI nesta quarta-feita (04). A Comissão o convocou antes do recesso, sob justificativa de que Blanco teria participado de um jantar em Brasília, presenciando o pedido de US$ 1 de propina por dose de vacina. Ele, que também é ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, negou as acusações e explicou que “jamais fiz pedido de comissionamento ou qualquer tipo de vantagem. Isso aí é absolutamente desconectado da realidade”. Blanco foi exonerado do Ministério em 19 de janeiro, mas afirmou ao senador Humberto Costa (PT-PE) que não sabe e não se interessou em saber o motivo.
Segundo o tenente-coronel, sua participação no assunto foi apenas uma tentativa de viabilizar uma agenda oficial de Dominghetti, representante da Davati Medical Supply com o Ministério. Os senadores questionaram se seriam seus interesses em facilitar essas tratativas, mas Blanco novamente negou ter esse objetivo em mente; segundo ele, seu interesse era apenas favorecer uma ponte entre as partes.
Entretanto, enquanto questionava o depoente, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que o aparelho celular de Marcelo Blanco continha 108 ligações para o telefone do policial vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti. Segundo ele, “dessas 108 ligações, 64 foram de iniciativa sua. Ligava duas vezes por dia”.
Blanco também mudou a situação cadastral da empresa dele para se adequar à venda de vacinas e, por esse motivo, o senador ainda disse ter certeza de que “o senhor não informou para o seu advogado que a sua empresa não tinha essa atividade dentro do seu descritivo. Eu tenho certeza. Um bom advogado jamais ia deixar o senhor sentar aí para dizer que a sua empresa tem uma vocação que não consta no seu estatuto. Nunca constou”.
As informações de Marcelo Blanco na CPI pós recesso
A cúpula da Comissão utilizou o recesso parlamentar para analisar quase 2 mil documentos recebidos até agora, muitos deles citando Marcelo Blanco. Esses documentos reúnem informações cruciais para a investigação como quebras de sigilo bancário e telefônico, relatórios sigilosos da justiça e até diálogos trocados por aplicativos de mensagens. Além das mensagens visíveis, especialistas da Polícia Federal (PF) e também peritos estão tentando recuperar informações que os investigados apagaram dos celulares. Entretanto, apesar das novas informações trazidas pelos Senadores, o tenente-coronel da reserva negou muitas outras acusações.
Um exemplo é sua afirmação de que nunca viu o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, nas dependências do Ministério. Vale lembrar que no dia 19 de março, o Deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Ricardo Luis Miranda, alertaram Bolsonaro sobre irregularidades na importação da vacina Covaxin; ao receber a notícia, o presidente afirmou saber sobre o envolvimento do deputado Ricardo Barros nas irregularidades no processo de compra da Covaxin.
“Essa operação Davati e Ministério da Saúde é uma das coisas mais tragicômicas que assistimos na vida política. Tragicômica porque é uma tragédia. Centenas de milhares de pessoas mortas e uma meia dúzia de oportunistas de um lado e de outro do balcão. Estelionatários que tentavam vender ‘terreno no céu’ porque não tinham vacinas”, disse Humberto Costa.