Na quarta-feira (07), o vice-presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), declarou durante a sessão que “os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia”, pois “fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do Governo”.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) até tentou alertar que a fala poderia ser mal interceptada, e Aziz completou sua fala dizendo que “quando a gente fala de alguns oficiais do Exército, é lógico, nós não estamos generalizando”. Antes de tentar contornar a situação, Aziz ainda tinha dito que o povo brasileiro “não os acusava [as Forças Armadas] de corrupção, mas, agora, Força Aérea Brasileira, Coronel Guerra, Coronel Elcio, General Pazuello e haja envolvimento de militares”.
Entretanto, tal como Marcos do Val previu, naquela mesma noite, o Ministério da Defesa e os comandantes das Forças Armadas deram uma resposta à fala do senador. Divulgaram uma nota oficial, onde o presidente da CPI era acusado de estar “desrespeitando as Forças Amadas e generalizando esquemas de corrupção”. A nota oficial conta com a assinatura dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica e do ministro da Defesa, Walter Braga Netto.
O incidente também ocorreu pouco depois de Aziz decretar a prisão de Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde. O comunicado teve apoio de Jair Bolsonaro e do ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria Geral). Para eles, a CPI quer apenas perseguir o presidente e não tem qualquer credibilidade.
Resposta da CPI às Forças Armadas
Nessa quinta-feira (08), um dia após a divulgação da Nota das Forças Armadas, os senadores Renan Calheiros (MDB) e Randolfe Rodrigues (Rede) disseram que iriam se intimidar pelas ameaças, “sob pretexto nenhum”. Calheiros ainda enfatizou que “nós [senadores] vamos investigar, haja o que houver”, e pediu “que o Sr. Braga Netto saiba que não há nenhuma confusão da participação de Pazuello com as Forças Armadas. O Brasil todo respeita as Forças Armadas e o exemplo que ela pode continuar dando”.
“Se o Pazuello participou do morticínio, se o Bolsonaro participou do morticínio, se o Elcio participou do morticínio, eles participaram de um morticínio, mas não contaminam as Forças Armadas. Mas, pelo fato de eles tentarem contaminar as Forças Armadas, nós não vamos, de forma nenhuma, paralisar a investigação. Nós saberemos a quem responsabilizar, e as famílias dos mortos também saberão”, concluiu Renan Calheiros.
Randolfe, por sua vez, ainda enfatizou que “as Forças Armadas não são elementos isolados. Nós estamos vendo aqui a responsabilidade do Sr. Coronel Elcio Franco. Atitudes como as desse senhor envergonham as Forças Armadas. E eu tenho a certeza de que os bons militares têm consciência disso”; ele também relembrou “a necessidade do papel que esta CPI vai fazer, o de investigar seja quem for, esteja onde estiver, custe o que custar”.
Nesse sentido, Aziz também se manifestou, dizendo que achou desproporcional a reação das Forças Armadas. “Podem fazer 50 notas contra mim, só não me intimidem”, pediu ele nessa quarta-feira (07).