O Brasil saiu da recessão no quarto trimestre, afirmou o governo em uma entrevista coletiva, embora o crescimento fraco e a alta inflação ainda perseguem a maior economia da América Latina, já que o presidente Jair Bolsonaro se prepara para buscar a reeleição em outubro.
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,5 por cento no período de outubro a dezembro, revertendo as contrações de 0,3 por cento e 0,1 por cento nos dois trimestres anteriores, disse o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso elevou o crescimento do PIB em 2021 para 4,6% no ano, apagando a dolorosa contração da economia em 2020, que foi revisada para 3,9%.
Tempos de incertezas
De acordo com os analistas consultados pelo Banco Central do Brasil, é esperado que os preços dos alimentos subam ainda mais como resultado das pressões econômicas do conflito Rússia-Ucrânia.
Os países em guerra estão entre os maiores exportadores de trigo do mundo, o que afeta o Brasil, mesmo que a maior parte de suas importações de trigo venha da Argentina. As negociações de futuros de trigo em Chicago subiram 40% desde o início do ano e atingiram seus níveis mais altos desde a crise financeira global, em resposta ao conflito. Os preços do petróleo também sofreram uma alta dramática, com o benchmark global Brent atingindo a marca de US $ 111 por barril na quarta-feira, o maior desde 2014.
Além disso, o Brasil é o maior produtor de café, soja e açúcar, e o mais dependente das superpotências agrícolas mundiais de fertilizantes importados. O país importa cerca de 85% de seus fertilizantes e cerca de um quinto dessas importações vem da Rússia. Sendo assim, se os agricultores brasileiros tiverem que pagar significativamente mais por fertilizantes ou não puderem produzir tantas colheitas, o custo de seus produtos agrícolas provavelmente aumentará, elevando os preços mundiais dos alimentos.
Como se já não bastasse, a incerteza alimentada pelo esperado confronto eleitoral de Bolsonaro com o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva pesam fortemente na economia brasileira este ano.
Impactos da COVID
O Banco Central respondeu a crise econômica com um dos ciclos de aperto mais agressivos do mundo, elevando rapidamente as taxas de juros para 10,75%, de uma baixa recorde de 2% em março de 2021. A política monetária agressiva, por sua vez, pesou no crescimento e prejudicou a recuperação da economia da Covid-19. O Brasil é um dos países mais atingidos pelo surto, com mais de 650.000 mortes, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Embora 72% dos 213 milhões de brasileiros estejam totalmente vacinados contra a Covid-19, a combinação de inflação alta e crescimento fraco manteve a recuperação econômica morna. Além disso, o poder de compra médio dos brasileiros caiu 7% no ano passado devido ao aumento dos preços e à estagnação dos salários. Com isso, o acúmulo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos 12 meses deve continuar em dois dígitos por mais tempo.