Enquanto os preços do petróleo e do gás sobem devido a guerra na Ucrânia, a Petrobras não aumenta os preços dos combustíveis por quase 60 dias, provocando distorções de mercado e preocupações com a concorrência. Como resultado, os preços médios do diesel e da gasolina vendidos nas refinarias da Petrobras estão 25% defasados, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
O que dizem os importadores?
Segundo o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, a situação atual não só inviabiliza as importações por agentes privados, como também afeta o desempenho da Petrobras, grande player cujos produtos são vendidos a preços muito mais baixos e com paridade internacional. Por isso, Sérgio Araújo espera que o governo federal faça algo a respeito. Segundo ele, o congelamento dos preços dos combustíveis pela Petrobras prejudica seus planos de desinvestimento no setor de refino.
“Os preços artificiais inibem novos investimentos em refino e infraestrutura em geral”, disse Araújo.
O que diz o mercado?
Os analistas do mercado financeiro acreditam que algumas das refinarias da Petrobras serão vendidas, e o mercado continuará sendo afetado diretamente pela estatal, que por sua vez, continuará controlando a maior parte da produção e refino de petróleo e gás do Brasil. Para eles, em ano eleitoral pode haver mais incerteza do que o esperado, incluindo a recente posição do presidente Jair Bolsonaro sobre os preços finais dos combustíveis ao consumidor.
Em comunicado conjunto publicado nesta quinta-feira (03) , os ministérios de Minas e Energia e das Relações Exteriores do Brasil disseram que estão monitorando de perto a volatilidade dos preços internacionais de petróleo e gás natural, bem como o possível impacto na produção e cadeias de fornecimento de petróleo, gás natural e seus derivados no mercado internacional.
“Este momento reforça a importância de diversificar a matriz energética, a fim de garantir um acesso mais seguro e sustentável à energia. O Brasil tem uma das matrizes mais limpas do mundo e continuará estimulando fontes limpas e renováveis, incluindo bioenergia moderna e biocombustíveis”, disseram os ministérios.
Posicionamento da Petrobras
Ao dizer que não interviria na empresa, Bolsonaro disse nesta quinta-feira (03) que a Petrobras conhece “suas responsabilidades” e sugeriu que em tempos de crise deve cortar as margens de lucro para evitar preços mais altos dos combustíveis. Um porta-voz da Petrobras afirmou que a empresa mantém seu compromisso com preços competitivos e equilíbrio com os mercados internacionais, evitando a transmissão de fatores externos e oscilações cambiais causadas por eventos ambientais.
“O mercado internacional já apresentava alta volatilidade, e os últimos acontecimentos causaram ainda mais volatilidade. A Petrobras continua monitorando e avaliando os impactos nos preços dos combustíveis e não pode antecipar qualquer decisão de reajuste ou manutenção dos preços atuais”, disse o funcionário. O porta-voz destacou que o mercado brasileiro de combustíveis é atendido por diversos players. Segundo ele, além da Petrobras, há distribuidores de biocombustíveis, produtores e importadores de biocombustíveis e outros refinadores e produtores de derivados de petróleo.