O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campo Neto, afirmou nesta terça-feira (10) que os combustíveis deverão pressionar a inflação no Brasil em 2023. De acordo com ele, a taxa inflacionária deverá estourar a meta pelo terceiro ano consecutivo.
A saber, a taxa acumulada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022 chegou a 5,79%. Contudo, o Conselho Monetário Nacional (CMN) havia definido a meta central da inflação em 3,50%, com um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima e para baixo.
Em outras palavras, a inflação até poderia chegar a 5,00% em 2022 que, mesmo assim, cumpriria formalmente a meta. No entanto, a taxa inflacionária estourou a meta, mesmo com a atuação do BC, que elevou os juros do país ao maior patamar em seis anos.
Seja como for, a expectativa da entidade financeira é que a inflação estoure a meta novamente em 2023. Aliás, a meta central da inflação em 2023 é de 3,25%, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Entretanto, o BC prevê que a taxa inflacionária ficará em 5% neste ano no país, estourando a meta novamente.
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Combustíveis pressionam inflação
No ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei complementar que limitava a cobrança do ICMS sobre diversos itens, dentre os quais estavam os combustíveis. A saber, estes itens exercem uma grande influência no IPCA, e, quanto mais altos os seus preços estiverem, mais pressionado ficará o indicador.
O governo Lula até prorrogou a isenção dos impostos sobre os combustíveis, cuja validade chegou ao fim em dezembro. Contudo, essa desoneração ficará em vigor apenas até o final de fevereiro. Assim, os combustíveis deverão ficar mais caros nos outros meses, impulsionando a inflação no país.
“Em 2023, a inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022”, explicou o presidente do BC.
“Esses efeitos são contrabalançados pela política monetária, embora não de forma integral, em virtude das diferenças temporais entre os impactos dos choques, de prazo mais curto, e os efeitos da política monetária, mais concentrados no médio prazo”, ponderou.
Por fim, Campos Neto afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC continuará vigilante com a trajetória da inflação no Brasil em 2023.
“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse.
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