No México, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, na última segunda-feira (8), houve protestos na capital do país contra o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador. Em vários momentos os manifestantes entraram em confronto com a polícia. Os confrontos mais violentos foram em frente ao Palácio Nacional, sede do governo e residência do presidente, onde cerca de 80 pessoas ficaram feridas.
Antes do protesto, o governo instalou uma barricada de metal para impedir o acesso ao prédio, mas a proteção não foi suficiente. Alguns dos centenas de ativistas carregavam martelos, cassetetes e maçaricos, conforme a mídia local. Um grupo conseguiu derrubar partes da barreira e entrou em confronto com a polícia, que lançou bombas sonoras para dispersar os manifestantes. De acordo com as forças de segurança da Cidade do México, pelo menos 81 pessoas ficaram feridas nos confrontos: 62 policiais e 19 manifestantes.
As ativistas chegaram à sede do governo para exigir mais direitos e igualdade de gênero, mas acima de tudo para protestar contra López Obrador. O presidente mexicano foi acusado de não fazer o suficiente para defender os direitos das mulheres mexicanas. O problema da violência contra as mulheres no México é muito grave e os casos de estupro ou abuso são particularmente comuns.
A polícia também registrou protestos em diferentes partes da Cidade do México, que envolveram milhares de mulheres.
Violência contra a mulher no México
Em 2020, cerca de 16 mil casos de estupro foram registrados no México. Também no ano passado foram registrados 966 feminicídios, mas esta contagem inclui apenas casos definidos como tal pelas autoridades locais. As mortes violentas de mulheres, que também incluem assassinatos, foram muito mais (3.723, em 2020). Portanto, as associações feministas acreditam que o número oficial de feminicídios é mantido baixo para tentar esconder o problema. Porém, mesmo de acordo com as contagens oficiais, esses crimes estão em alta: em 2015 eram 411.
Um dos principais problemas é que a maior parte da violência fica impune. De acordo com uma investigação do site de notícias Animal Politico, entre 2014 e 2018 apenas 5% das denúncias de violência sexual levaram a uma condenação. Para as feministas, o governo mexicano ignora as demandas das mulheres ao trair as promessas que fez de tornar o México mais igualitário e feminista.
López Obrador, ativista e sindicalista de longa data, foi eleito chefe de uma coalizão de esquerda em 2018. Antes de ser eleito presidente, ele se apresentou como candidato feminista e defensor dos direitos dos mais fracos, incluindo os povos indígenas. Entre outras coisas, pela primeira vez na história do México, metade do governo é composto por mulheres ministras, como a chefe do Ministério do Interior, uma das funções mais importantes do gabinete.
Desde que López Obrador chefiou o governo, entretanto, ativistas contestam tanto algumas de suas declarações quanto às medidas políticas consideradas controversas. Por exemplo, no ano passado, após dois feminicídios particularmente sangrentos que atingiram a opinião pública (um de uma mulher de 25 anos, outro de uma menina de sete), o presidente do México disse que esses casos foram “manipulados pela mídia”. Além disso, ele disse que a oposição conservadora havia “se disfarçado de feministas” para atacá-lo.