Nos últimos meses, o nível de investimento estrangeiro em títulos chineses vem sofrendo forte queda. Essa queda reflete diversas questões políticas e comerciais da China, assim como outras questões macroeconômicas, como o aumento da taxa de juros em diversos países ao redor do mundo, fazendo com que o investimento na China se torne cada vez menos atrativo.
Entre janeiro e março, cerca de US$150 bilhões em ativos financeiros, principalmente títulos, foram retirados da China. A previsão é que, até o fim do ano, US$300 bilhões em ativos saiam da China até o fim do ano. O número representa mais que o dobro da perda de investimentos estrangeiros em 2021.
Causas do afastamento do investimento estrangeiro na China
Atualmente, a principal causa para este afastamento é a estratégia do governo chinês altamente restritiva em relação a covid-19. Apelidada de “covid-zero”, os surtos da doença nas cidades chinesas têm sido combatidos com lockdowns severos. A estratégia é diferente da adotada nos países do ocidente, que tem buscado conviver com a doença mediante a aplicação de doses recorrentes de vacina.
Dessa forma, as medidas restritivas têm afetado o crescimento da economia chinesa. O último confinamento atingiu a cidade de Xangai, cidade chinesa que corresponde por 5% do PIB nacional. Mediante a isso, investidores têm ficado receosos com a possibilidade de novas medidas restritivas que venham a travar mais uma vez a economia chinesa.
Além disso, desde o ano passado, a China tem enfrentado uma grave crise imobiliária, devido ao alto grau de endividamento das grandes empresas do setor, como a Evergrande. O crescimento chinês das últimas décadas foi extremamente pautado no crescimento imobiliário, sendo financiado por crédito a juros baixo.
Guerra entre Ucrânia e Rússia
Desde o início da guerra foi notado um aumento da saída de capital estrangeiro da China. As sanções impostas sobre a Rússia envolveram o congelamento de reservas em euros e dólares do banco central russo, o que levou investidores a especularem que a Rússia poderia vender sua participação em ativos chineses como forma de arrecadação de fundos.
Além disso, foram levantadas preocupações sobre uma possibilidade de operação militar chinesa sobre Taiwan. Desde o início da guerra, tornou-se comum exercícios de caças chineses sobre o espaço aéreo de Taiwan. Além disso, existe um forte relacionamento entre Rússia e China.
Aversão ao risco
Todos os pontos levantados mostram que, nos temores por uma crise econômica global, investidores estão buscando ativos que gerem o menor risco possível. A China, nos últimos meses, principalmente pela política restritiva adotada em relação à covid-19, não tem demonstrado ser confiável para os investidores.
Dessa forma, com o aumento da taxa de juros pelos Estados Unidos, é comum que investidores passem a optar por investir no tesouro americano como forma de proteção de seu capital. Além disso, outras economias emergentes têm apresentado taxas de juros atrativas e de até menor risco em relação à China no atual momento.
No entanto, isso não necessariamente representa uma crise econômica chinesa, mas sim um comportamento do mercado em relação ao risco a ser tomado. A China tem tido seu crescimento econômico revisto (redução) devido aos lockdowns, mas ainda assim deverá apresentar superávit em sua balança comercial.