Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou nesta terça-feira (15) que a instituição está trabalhando em novas funcionalidades do PIX, o sistema de transferência de recursos em tempo real. Nesse sentido, ele afirmou que, em sua visão, o sistema pode acabar virando, em breve, uma alternativa ao cartão de crédito.
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A declaração foi dada durante uma entrevista ao portal “UOL”, dias após ele ter afirmado que o Banco Central está buscando meios para reduzir a inadimplência nas operações com cartão de crédito rotativo – que ocorre quando o cliente não paga o valor total da fatura e joga a dívida para o mês seguinte. Segundo ele, entre elas, estaria o fim do rotativo do cartão de crédito, e o parcelamento do saldo devedor com juro menor. Outra sugestão foi cobrar uma tarifa para compras parceladas com prazo maior.
“É super importante, a gente está fazendo várias políticas com o PIX crédito, que vão desafogar e dar alternativas. Mas a nossa ideia era dar uma opção que passasse por ter um parcelamento, e não ter o rotativo. De tal forma que a gente conseguisse equilibrar os números por produto. É importante que o cartão de crédito continue a ser uma alternativa viável”, disse.
Até o momento, ainda não existem informações detalhadas sobre como funcionaria o PIX na modalidade de crédito, visto que o produto não está sequer lançado de forma oficial. No entanto, sabe-se que a ideia é autorizar os bancos a oferecerem empréstimos por meio dessa ferramenta, incluindo o parcelamento, justamente como ocorre atualmente com o cartão de crédito.
Ainda na entrevista, o presidente do Banco Central confirmou ter tomado um “puxão de orelha” por ter antecipado os estudos sobre o assunto. Ele não informou quem o repreendeu, mas ressaltou que o tema, atualmente, está sendo tratado em conjunto com o Ministério da Fazenda, com associações do mercado financeiro e bancos.
Conforme Campos Neto, houve um aumento em um “período muito rápido” na concessão de novos cartões de crédito, com o número de cartões em circulação saltando de pouco mais de 100 milhões de unidades para 215 milhões. “Aumento muito grande, muita gente com dois, três, quatro, cinco cartões. O que começou a acontecer que você tinha, de um lado, um custo muito grande, pois aumentou muito parcelamento sem juros. Saía do parcelamento sem juros e entrava no rotativo, já entrava em uma situação ruim”, afirmou ele.
Para Campos Neto, se existe uma inadimplência registrada de 54% do total de operações, existe um problema no produto em questão, isto é, no crédito rotativo. “Não conheço nenhum país do mundo onde os cartões tenham inadimplência tão alta. E um juro muito alto, que acaba entrando nesse ciclo vicioso”, completou ele, lembrando que as taxas chegam a 800% ao ano para “novos entrantes”, isto é, para pessoas que buscam a modalidade e não tem relacionamento prévio com a instituição financeira.
“O problema foi gerado por uma concessão grande de cartões, por um tema que tem um parcelamento sem juros que, aparentemente não tem custo, mas obviamente alguém paga o custo no fim”, afirmou ele, ressaltando ser importante encontrar um ponto de equilíbrio no cartão de crédito, ou as vendas parceladas, que hoje correspondem por 40% do total no país, podem cair no futuro.
“O comércio diz que precisa do parcelado sem juros porque estimula compra. Do outro lado, se nada for feito e começar a ter um colapso na indústria de cartões de crédito, vai ter uma queda muito grande de vendas. Lembrando que 40% das vendas no Brasil são feitas por cartão de crédito. Em um país emergente normal, é entre 10% e 15%”, explicou o presidente do Banco Central.
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