Para um país do tamanho de um continente, louco por futebol, que compartilha o sonho coletivo do hexa, a disputa da seleção vai além do estádio de futebol, estando presente em carácter profundamente político, a camisa da seleção brasileira. Será que as últimas duas vitórias do Brasil na Copa, servirá como um momento de cura nacional ou continuará deixando feridas duradouras na nação, na forma de ataques pessoais superaquecidos, violência entre eleitores e acusações infundadas de uma eleição fraudada.
Terror da “amarelinha”
A seleção nacional, tipicamente um farol de orgulho nacional, já é um microcosmo da política polarizada do país. Para muitos brasileiros, a adoção das cores pelos bolsonaristas está manchando a camisa da seleção brasileira, que ficou famosa por gerações de graciosos nomes do belo jogo nos pés, de Pelé a Ronaldinho.
Assim, as camisas amarelas e verdes tornaram-se onipresentes entre os milhares de apoiadores de Bolsonaro em todo o Brasil que protestavam contra os resultados das eleições, com alguns manifestantes pedindo intervenção militar para manter Bolsonaro no poder.
Apesar disso, o próprio presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou: “A gente não tem que ter vergonha de vestir a camiseta verde-amarelo. A camiseta não é do partido político, é do povo brasileiro. Vocês vão me ver usando a camiseta amarela, só que a minha terá o número 13”.
Nascimento da camisa verde e amarela
Em uma nação onde crianças pobres sonham em sair das favelas com o talento do futebol, a camisa da seleção verde e amarela possui uma história política surpreendentemente carregada. Nasceu de uma derrota humilhante na Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai. Como resultado, um concurso de 1953 para substituir o que era então um uniforme predominantemente branco tinha um requisito: que usasse o amarelo, verde, azul e branco da bandeira brasileira.
A vencedora, desenhada pelo ilustrador de jornal Aldyr Schlee, de 19 anos, foi uma camisa com campo amarelo, forrada com detalhes em verde Kelly e usada com shorts azuis e meias brancas. Anos depois, Schlee seria preso por escritos que iam contra a ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985.
Conflitos políticos e camisa da seleção
Quando o governo autoritário fez da vitória na Copa do Mundo um objetivo de propaganda em 1970 e nomeou um general de brigada para liderar sua delegação ao torneio, muitos brasileiros de esquerda rejeitaram a camisa e juraram não torcer pelo time.
A polarização em torno da camisa havia diminuído na era democrática, mas reviveu com força em 2013, quando manifestantes contra o governo de esquerda de Dilma Rousseff tornaram a camisa da seleção um símbolo de protesto. Em suma, nos últimos quatro anos, com o incentivo do presidente, a camisa tornou-se a marca registrada de um dos cartões de visita dos bolsonaristas.