Sérgio Cabral, ex-governador do estado do Rio de Janeiro, disse ter distorcido as acusações contra Dias Toffoli, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em um acordo de delação premiada com a Polícia Federal em 2020.
Segundo o ex-governador, ele disse que distorceu a informação porque “estava com raiva do Judiciário”. Vale lembrar que Sérgio Cabral foi detido durante a Operação Lava Jato do Rio e estava na cadeia desde o dia 17 de novembro de 2016.
Dentre várias delações premiadas em que o ex-governador prestou à Polícia Federal, nesta, Cabral afirmou que Toffoli recebeu R$ 4 milhões para beneficiar dois prefeitos de cidades do Rio em processos no TSE.
Os repasses teriam ocorrido entre os anos de 2014 e 2015 e envolveriam o escritório de advocacia da mulher do ministro, a advogada Roberta Rangel. Hoje, arrependido, Cabral pediu desculpas ao ministro e disse que o tal nunca o pediu nada de errado.
Cabral admite caixa dois durante seu governo
O período em que Sérgio Cabral atuou como governador do estado do Rio de Janeiro consistiu no período das Olimpíadas e com ela grandes obras pelo estado. Porém, Sérgio Cabral negou ter superfaturado qualquer obra durante seu governo.
“Eu nunca superfaturei. Quero dizer aqui para as câmeras que eu nunca superfaturei. Os próprios delatores da Odebrecht, da Andrade Gutierrez, da Carioca Engenharia? Quem resolveu falar nunca disse que eu superfaturei”, disse o ex-governador.
Apesar disso, Sérgio Cabral foi condenado em mais de 20 processos por diferentes crimes—incluindo corrupção e caixa dois—e suas penas somam quase 400 anos de prisão, mas em todos os casos ainda cabe a possibilidade de recurso.
Ao contrário da sua defesa no caso da superfaturação de obras, o ex-governador disse sim que utilizou dinheiro de campanha para tirar proveito próprio, crime conhecido popularmente como “caixa dois”.
Em 2017, o ministro do STF Luís Roberto Barroso classificou caixa dois como crime. A prática consiste em receber doações de campanha e não declarar os valores na prestação de contas à Justiça Eleitoral e pode ser punido com até cinco anos de prisão. O Código Eleitoral não tem um artigo específico para criminalizar a prática, mas o Ministério Público tem usado o artigo 350 do código para punir os casos de caixa dois.
Seu relacionamento com Eduardo Paes
Sérgio Cabral e Eduardo Paes compartilharam a política do Rio de Janeiro por muitos anos, o primeiro como governador e o outro como prefeito, o qual exerce atualmente o cargo.
Segundo Sérgio Cabral, Eduardo Paes era considerado um grande amigo, além da política, porém por questões da própria política, o atual prefeito se afastou.
Na visão de Cabral, Paes se prejudicou ao negar a proximidade. “Eu acho que isso prejudicou o Eduardo na campanha, porque aí os líderes do interior falaram: “Que sacanagem é essa com o Sergio? “Eu não tenho raiva dele, eu gosto dele. Ele gosta do Rio e ama o que faz (…). A nossa amizade era tão flagrante, tão óbvia e tão verdadeira que não tinha cabimento ele fazer isso comigo”.