Nessa terça-feira (27), o Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu um alerta sobre a situação do Brasil, avisando que o país corre risco de sofrer com mais tensão política e viver uma retomada desigual na economia do mundo.
Dentre as possíveis explicações para essa crise, a falta de vacina nos países em desenvolvimento é o mais preocupante. Quase 40% das pessoas nas economias avançadas já estão totalmente vacinadas. Quando se trata dos mais países emergentes, porém, o percentual despenca para 11%. A falta de uma vacinação generalizada poderia permitir o surgimento de variantes do vírus altamente infecciosas, como a Delta, identificada pela primeira vez na Índia e que se tornou prevalente; segundo a estimativa do próprio FMI, isso poderia custar à economia mundial 4,5 trilhões de dólares até 2025.
Entretanto, o FMI alertou que a recuperação “não está garantida inclusive em países onde as infecções são atualmente muito baixas enquanto o vírus circular em outros lugares”; o aparecimento de novas variantes do coronavírus também é motivo de preocupação, mesmo entre os países mais ricos.
Além disso, a carestia nos preços, destaca o FMI, é um fenômeno que castiga particularmente os mais pobres. Além do caso brasileiro, o FMI destaca Rússia, Hungria, México e Turquia como possíveis pontos de instabilidade.
Devido à crise, o órgão declarou que “a prioridade imediata é distribuir vacinas de forma equitativa em todo o mundo” e promoveu um plano de 50 bilhões de dólares que oferece um “custo factível para pôr fim à pandemia”; também garantiu que “pelo menos um bilhão de doses de vacinas deveriam ser distribuídas em 2021 pelos países com excedentes de vacinas”.
O que mais o FMI diz sobre o Brasil?
Segundo Gita Gopinath, economista-chefe do órgão, há um fosso crescente entre as economias mais avançadas e os mercados emergentes, incluindo o Brasil. “O agravamento da pandemia e das condições financeiras infligiriam um duplo golpe nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento e atrasaram severamente suas recuperações”, diz ela.
Segundo o Panorama Econômico Mundial do FMI, a economia do Brasil deve crescer 6% este ano. O problema é que a retomada deverá se concentrar nas nações ricas, tudo graças ao avanço acelerado da vacinação, e não beneficiará a parcela mais vulnerável da população. De certa forma, isso se explica porque o Banco Central brasileiro precisou aumentar as taxas de juros como forma de conter a inflação.
Gopinath também destacou uma “brecha cada vez maior” existente à medida que as economias avançadas crescerem mais rápido e as nações em desenvolvimento, especialmente na Ásia, desacelerarem. Por exemplo, os Estados Unidos, a primeira economia mundial, devem experimentar um crescimento muito mais rápido este ano do que o previsto anteriormente, com um aumento de 7% graças a um gasto governamental maciço e uma vacinação anticovid generalizada, mas o FMI cortou o prognóstico da Índia, que enfrenta o ressurgimento das infecções.
O FMI também disse que a inflação deve voltar aos níveis da pré-pandemia em 2022 e instou aos bancos centrais a não reagirem às pressões temporárias de preços, mas estar preparados para tomar “medidas preventivas”.