O jornal britânico Financial Times afirmou que Brasil e Argentina deverão anunciar, ainda nos próximos meses, a criação de um grupo de estudos para a construção de uma moeda comum. O tema volta à tona depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, refutar a ideia e dizer que não há nenhum projeto sobre a medida.
O anúncio é diferente do que uma criação de uma moeda nova para todos os países, afirmam especialistas. Além disso, o processo de uma moeda comum entre Brasil e Argentina poderia levar anos, dada a complexidade do tema.
O que é uma moeda comum?
O tema de moeda comum tomou conta dos noticiários após a divulgação, pelo Financial Times, de que Brasil e Argentina estariam contruindo uma. Segundo o portal britânico, a denominação da moeda seria “sur” e teria como finalidade impulsionar o comércio na região da América do Sul. Ambos os países estariam dispostos a convidar mais países para se juntar à novidade, como Paraguai e Uruguai, que também fazem parte do Mercosul.
Contudo, a moeda comum não é uma simples troca de moeda. Com isso, o anúncio não quer dizer que o Brasil deixará de ter o real, assim como a Argentina manterá o peso argentino em vigor. A moeda seria usada para impulsionar o comércio local, sem que haja a necessidade de fazer a troca para o dólar, a moeda mais forte internacionalmente hoje. No âmbito interno dos países, as moedas atuais seguiriam vigentes, sendo a nova moeda usada apenas para importação e exportação de produtos.
Além disso, é extremamente complexo fazer o projeto de moeda comum. Isso porque os economistas envolvidos precisariam estudar todas as questões da economia na Argentina e no Brasil para traçar um plano inicial. A reportagem relembra que o euro, moeda europeia, demorou 35 anos para entrar em vigor.
É uma boa ideia?
Economistas divergiram ao saber da notícia veiculada pelo portal Financial Times. Isso porque a novidade tem aspectos bons e aspectos ruins, assim como acontece com o euro atualmente. Como dissemos anteriormente, a implementação de uma nova moeda é um processo extremamente complexo e, por isso, deverá ser feito com cautela.
Dentre os lados positivos, o comércio entre as economias aderentes ao “sur” poderia ser impulsionado. Isso porque a troca seria facilitada e não haveria interferência de fatores externos, que atualmente podem influenciar o preço do dólar. Além disso, entre Brasil e Argentina, é notório que os argentinos teriam ainda mais vantagens com a adoção da moeda comum, dado que o país passa por problemas inflacionários e de balanço de pagamentos.
Dentre as desvantagens está a falta de união fiscal. Isso quer dizer que cada país terá autonomia para gastar como quiser, podendo um país ter superávit e outro ter déficit. Em 2008, a Europa sofreu desse problema, gerando a crise nos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Na época, esses países estavam extremamente endividados e países de economia mais forte no continente tiveram que salvar os déficits.
Por conta disso, o anúncio de um grupo de estudos sobre uma moeda comum, se anunciado, pode ser o início de um longo processo de união comercial, que pode ser deixado de lado por futuros governos.