O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma revelação nesta terça-feira (28) durante uma entrevista ao canal “Hipócritas”, no YouTube. De acordo com o chefe do Executivo, ele ameaçou um médico militar afirmando que, caso ele não lhe receitasse medicamentos sem eficácia comprovada para Covid-19, seria transferido.
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De acordo com Bolsonaro, que não citou os nomes cloroquina ou ivermectina, medicamentos que a ciência comprovou que são ineficazes contra a Covid-19, o caso aconteceu na época em que ele apresentou sintomas da doença.
Segundo o chefe do Executivo, assim que ele notou que estava com sintomas da Covid-19, chamou um médico do Exército, Na ocasião, o profissional recomendou que Bolsonaro fizesse um teste para saber se ele estava mesmo com o vírus.
Todavia, o presidente relatou que pediu os medicamentos que julgava necessário e, se caso tivesse seu pedido negado, iria “democraticamente” transferir o médico “para a fronteira”. “Eu mesmo quando senti o problema, chamei o médico, falei: ‘Acho que estou com sintomas’. Ele falou: ‘Está com todos os sintomas, vamos fazer o teste’”, começou Bolsonaro.
“Falei: ‘Me traz aquele remédio’. Ele disse: ‘não, não, não’. Eu falei: ‘Traga o remédio porque o exame só vai sair o resultado amanhã e pode ser tarde demais. Aí o médico disse: ‘Ah, mas os protocolos nossos’… Falei: ‘Traz o remédio ou te transfiro para a fronteira agora, democraticamente. Tomei, no outro dia estava bom”, contou rindo o presidente.
Na sequência, Bolsonaro disse que o profissional de saúde “perdeu a autonomia” durante a pandemia. “Você pegou algo que ninguém sabe o que é, [o médico] tem que tentar uma alternativa em comum acordo contigo, [mas] acabaram a autonomia do médico no Brasil”, disse o chefe do Executivo.
Bolsonaro e os medicamentos sem eficácia comprovada
Durante sua gestão na pandemia da Covid-19, Bolsonaro sempre defendeu o uso de remédios sem eficácia comprovada para combater a doença, notadamente a cloroquina, a hidroxicloroquina e a ivermectina.
A insistência do presidente continuou mesmo depois que a ciência atestou que, ao invés de ajudar, esses medicamentos podem agravar a situação dos pacientes, pois podem provocar efeitos colaterais graves no paciente.
Por conta dessa insistência, inclusive, inúmeros pedidos de impeachment por crime de responsabilidade contra a saúde pública foram propostos contra o presidente, mas nenhum foi para frente.
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