“Cara de pau” e “sem caráter”. É assim que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), classificou nesta terça-feira (02) as pessoas que assinaram a carta em defesa da democracia organizada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Hoje, o manifesto já conta com mais de 700 mil assinaturas.
Assim como publicou o Brasil123, além da sociedade civil em geral, também assinaram o manifesto ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), jurista e empresários. “Esse pessoal que assina esse manifesto, é cara de pau, sem caráter. Não vou falar os adjetivos aqui que eu sou uma pessoa bastante educada. Essa é uma grande realidade”, disse Bolsonaro.
A declaração do presidente foi feita na tarde desta terça durante uma entrevista à rádio “Guaíba”. Na ocasião, o chefe do Executivo afirmou que quem normalmente defende a democracia é, na realidade, “um ditador”. “E ninguém que porventura queira dar um golpe vai dizer que não é democrático, vai dizer que é democrata. São contradições”, disse.
Segundo Bolsonaro, as pessoas querem dar a entender que ele está se preparando para dar um golpe de Estado. Nesse sentido, o presidente questionou: “Que golpe estou preparando? Qual é o golpe? Pedir transparência eleitoral? Você é contra a transparência? Contra a verdade? Contra a garantia que o teu voto vai para aquela pessoa?”.
Em outro momento da entrevista, o presidente ainda comentou sobre a grande adesão de artistas ao movimento. De acordo com o chefe do Executivo, isso acontece porque eles foram “desmamados na lei Rouanet” – a fala é uma referência à tentativa do governo em dificultar que artistas captassem recursos através da lei criada para isso.
“Veja o padrão das outras pessoas, artistas que foram desmamados na lei Rouanet. Quando eu cheguei aqui, esses artistas importantes que viviam apoiando o governo, vocês sabem quem são, especial da nossa Bahia, podiam pegar até R$ 10 milhões por mês da Lei Rouanet. Então essas pessoas perderam isso aí”, disse Bolsonaro.
Resposta para Bolsonaro
Logo depois de fala de Bolsonaro ter vindo à tona, o procurador Luiz Antonio Marrey, um dos idealizadores da carta, publicou uma nota dizendo que o documento tem como intuito defender o “regime democrático no Brasil como existe hoje”. Nesse sentido, ele afirmou que só “pode ser contra uma manifestação em defesa da democracia quem possa ter hostilidade a essa forma de organização político constitucional”.
Em outro momento, ele destacou que os organizadores pretendem coletar muito mais assinaturas até o próximo dia 11 de agosto, data em que a carta será lida em São Paulo. “Essas assinaturas existem por uma percepção da necessidade desta defesa. Portanto, quando qualquer pessoa defende a ditadura, a volta ao passado, a supressão de liberdades públicas, ou fica nervoso com esse tipo de manifestação, mostra que as pessoas estão justamente organizadas em defesa de um bem maior, que é o regime democrático no Brasil”, disse ele.
Leia também: Para presidente do TSE, críticas às urnas têm objetivo de ‘tirar dos brasileiros a certeza de que seu voto é válido’