Nesta última quarta-feira (27), a Bloomberg, rede de notícias norte-americana, publicou em seu site um editorial cobrando ações de líderes mundiais em relação aos cada vez mais frequentes ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) à democracia. Segundo a Bloomberg, durante os quatro anos de governo, Bolsonaro esteve pouco compromissado com o exercício democrático.
“Ainda não se sabe se tal fanfarronice se traduz em um esforço conjunto para rejeitar um resultado desfavorável nas eleições presidenciais de outubro. Mas a mera possibilidade de uma crise eleitoral no maior país da América Latina é algo que os líderes do Brasil – com a ajuda do mundo democrático – devem agir para evitar”.
A convenção do Partido Liberal, ocorrida no último dia 24, oficializou Bolsonaro como candidato à reeleição pela presidência da República. Nesse sentido, durante o evento, diversos ataques à democracia foram proferidos pelo mandatário ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como ao Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro chegou a negar uma possível intenção de dar golpe de Estado. No entanto, a Bloomberg entende que ainda assim, “resultados menos extremos” poderiam ser “devastadores” e que o Brasil “corre o risco de sofrer uma paralisia”.
“Surtos de violência podem levar à intervenção militar, e uma divisão nas forças de segurança mais amplas não é inconcebível, dado o apoio mais entusiástico da Polícia Militar. Qualquer movimento para rejeitar ou desacreditar os resultados exacerbaria a desconfiança dos brasileiros nas instituições governamentais em um momento em que o descontentamento com os frutos da democracia já estão em alta”, afirmou à Bloomberg.
Carta pela democracia confronta Bolsonaro
Executivos de bancos e empresas do Brasil, assim como juristas, economistas e profissionais de outras áreas, assinaram uma carta em defesa da democracia do país, bem como seu sistema eleitoral. Dessa forma, o pacto vem após a série de alegações infundadas de Jair Bolsonaro em relação às urnas eletrônicas.
“As nossas eleições com o processo de contagem eletrônica têm sido um exemplo para o mundo”, declara o documento. “As urnas eletrônicas se mostraram seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral”.
“Vivemos um momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco para as instituições da República e insinuações de desrespeito pelo resultado das eleições”, diz a carta, que pede respeito pelo resultado das eleições de outubro.
Em 1977, uma carta pela democracia também foi elaborada, denunciando o estado de exceção vivido pelos brasileiros durante o governo militar. O ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias, vê semelhanças entre os climas políticos das duas épocas.
“Esta segunda carta tem um sentido de acordar a sociedade civil para a luta que nós queremos travar […] Falo com a convicção de advogado e cidadão, e como presidente da Comissão Arns que eu sou, nós tememos que estejamos partindo para um golpe de Estado.
Já o professor da USP, Hübner Mendes, acredita que o movimento “seja uma ficha que está caindo muito tarde”. “Mas a realidade é que a gente tem um presidente de mãos dadas com as Forças Armadas, grupos das polícias e clubes de tiro espalhados pelo país ameaçando não respeitar o resultado das eleições, e acho que essa pelo jeito foi uma ferida que se pisou e sensibilizou”, disse o professor sobre a atual situação relacionado ao governo de Jair Bolsonaro.