Estudiosos se perguntam se o Auxílio Brasil afetará o eleitor diante das alterações pelas quais o programa passou e a menos de 70 dias das eleições presidenciais. Até o dia 2 de outubro o programa pode gerar muito impacto na disputa.
Será que o Auxílio Brasil afetará o eleitor?
A quase dois meses das eleições, o Governo Bolsonaro consegue aprovar o Auxílio Brasil de R$ 600. Além disso, a gestão também não mediu esforços para antecipar o pagamento do benefício para a primeira quinzena do mês de agosto.
A decisão foi tomada para avaliar se a ampliação do Auxílio Brasil afetará o eleitor. Nas últimas pesquisas realizadas, Bolsonaro ainda segue atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo dentre os beneficiários do programa.
A memória da antiga gestão ainda é muito forte, principalmente, quando associada ao antecessor do Auxílio Brasil, o Bolsa Família. Eleitores do Nordeste e de Minas Gerais apresentam certo favoritismo em relação ao candidato.
Cenário eleitoral
Entre aqueles que fazem parte do grupo de baixa renda, analisando o cenário nacional, Lula tem aproximadamente 58% das intenções de voto. No Nordeste, o índice de votos do ex-presidente chega aos 60%.
Além disso, a pergunta a ser feita não é apenas se o Auxílio Brasil afetará o eleitor, mas também como ele afetará. Pois há duas hipóteses, entenda:
- O eleitor pode enxergar os esforços do presidente como ações com fim de superar o antigo programa do concorrente, a fim de “comprar” votos. Assim, o candidato Lula seria favorecido; ou
- O eleitor pode acreditar que o novo programa se difere do antigo pelo ticket de maior valor, que consequentemente, abona melhor. Assim, Bolsonaro seria o favorecido da vez.
O ticket médio do Bolsa Família girava em torno de R$ 190. Enquanto o Auxílio Brasil, às vésperas das eleições estará pagando R$ 600 aos seus beneficiários.
Bolsa Família x Auxílio Brasil
Apesar de Bolsonaro reafirmar a diferença de valores, com a correção da inflação desde 2000 a diferença de valores é muito sutil. O poder de compra do cidadão brasileiro diminuiu significativamente nas últimas duas décadas.
A comparação pode ser prejudicial para o próprio presidente Bolsonaro. Por isso, ainda assim a memória do Bolsa Família é uma forte influenciadora para o candidato da oposição.
A possibilidade de virada nunca pode ser descartada, mas no momento é difícil imaginar que ela possa ocorrer. As pesquisas realizadas apresentam uma distância considerável entre ambos os candidatos.
O que Bolsonaro dizia sobre o assistencialismo?
Antes de se apoiar em cima do Auxílio Brasil, o presidente Bolsonaro teceu inúmeras críticas ao antecessor Bolsa Família. Conheça algumas das falas e situações nas quais o político deixou claro seu desafeto pelo benefício:
- Em março de 2019, Bolsonaro distorceu a apresentação dos dados de uma pesquisa realizada na época, para dizer que filhos de beneficiários do Bolsa Família tinham menor desenvolvimento intelectual;
- “Chegou-se à conclusão que o desenvolvimento intelectual dessa garotada, de 0 a 3 anos, filhos de Bolsa Família, equivaliam a 1/3 da média mundial”, explicava o Bolsonaro, ao lado do filho dele, Eduardo Bolsonaro, deputado Federal;
- 4 anos antes, em 2015, Jair afirmou que os beneficiários não possuíam planejamento familiar e não produziam nada;
- “O cara tem 3, 4, 5, 10 filhos e é problema do Estado. Ele já vai viver de Bolsa Família, não vai fazer nada. Não produz bens nem serviços, não colabora com o PIB, não produz nada”, disse ele, enquanto ainda era deputado federal.
- Em entrevista à Record News, em 2012, Bolsonaro disse que o programa de transferência de renda era uma mentira e sugeriu que os beneficiários não aceitavam trabalhos por conta do valor recebido do governo;
- “O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família”, afirmou;
- Já em 2011, quando buscava a Presidência da Câmara, Jair defendeu o fim dos pagamentos, sugerindo que a assistência levaria a uma “ditadura do proletariado”;
- “Devemos discutir aqui a questão do Bolsa Família. Devemos colocar um fim, uma transição para o Bolsa Família, porque, cada vez mais, pobres coitados, ignorantes, ao receberem Bolsa Família, tornam-se eleitores de cabresto do PT”;
- Ainda no mesmo ano, o parlamentar chamou os beneficiários de “sem cultura” e afirmou que seriam escravizados pelo PT;
- “Quanto mais pobre, miserável e sem cultura, mais gente com título de eleitor na mão para manter no governo, que o escraviza”, completou;
- Por fim, em 2017, quando já era pré-candidato à República, Bolsonaro disse que não seria “com caridade” que o Brasil sairia da situação de pobreza, referindo-se ao programa;
- “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto.”
De forma controversa, a marca da campanha de reeleição do presidente Bolsonaro, é o substituto do Bolsa Família. Todos os esforços da equipe do candidato têm se direcionado ao programa de transferência de renda.