O ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou, durante depoimento ao Tribunal”Superior Eleitoral (TSE), que “nem se lembrava” da minuta golpista que foi encontrada em sua casa após uma operação da Polícia Federal (PF), que o investiga por uma suposta omissão cometida durante o 08 de Janeiro, data marcada pela invasão e depredação de apoiadores radicais do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) às sedes dos Três Poderes – Supremo Tribunal Superior (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto.
De acordo com informações publicadas pelo jornal “Folha de S. Paulo”, o ex-ministro, ao comentar sobre a minuta, que estava sob um porta-retrato seu ao lado da mulher, além de dizer que o documento “não teve a menor importância” e que “é tudo uma loucura o que está escrito nessa pseudominuta”, afirmou também que não via “nenhuma consequência” das condutas do ex-presidente à Constituição ou ao processo eleitoral.
“O presidente sempre foi muito claro em relação às dúvidas que ele tinha”, indicou Anderson Torres, uma opinião que vai de encontro à avaliação do TSE sobre o caso – a Corte, inclusive, assim como publicou o Brasil123, condenou Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
Essa punição aconteceu por conta de uma reunião em que, diante de embaixadores, sem provas, o ex-presidente atacou as urnas eletrônicas. No julgamento, ministros do tribunal destacaram que as declarações de Bolsonaro acabaram estimulando os atos registrados no 08 de Janeiro.
Segundo a “Folha de S. Paulo”, essas declarações de Anderson Torres estão em seu depoimento prestado no processo que culminou em Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos. Grande parte dessas declarações permaneceram em sigilo até que a ação fosse finalmente julgada.
Durante o depoimento, Anderson Torres foi questionado sobre uma live em que ele apareceu ao lado de Bolsonaro atacando as urnas eletrônicas – na oportunidade, Bolsonaro divulgou um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker aos sistemas internos do Tribunal Superior Eleitoral, em 2018. Esse ataque, de acordo com o TSE, não causou nenhum impacto no pleito.
Segundo Anderson Torres, ele apenas participou da transmissão lendo alguns trechos de um relatório do TSE sobre o sistema eletrônico de votação. Ainda segundo o ministro, ele não tinha acesso a documentos da PF que “concluísse que existia fraude na eleição”.
Anderson Torres também afirmou que, no período da eleição, era “praticamente impossível encontrar o então presidente”. “Ele ficou por conta da eleição. A gente tinha grande dificuldade até de despachar os temas do governo, porque era difícil encontrá-lo”, indicou, que ainda destacou que o ex-presidente se isolou após a derrota nas urnas.
“Ele ficou bastante isolado, fazendo esse tratamento. Acho que passando por um processo ali até de, eu diria, aceitação do processo, de recuperação dessa doença”, registrou. Parte do teor da fala de Torres sobre essa “doença” de Bolsonaro foi suprimida do depoimento porque está sob segredo de justiça.
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