Cerca de um mês após o Talibã tomar o poder do Afeganistão, a vida dos afegãos mudou completamente. Embora todos sofram as consequências extremas do novo governo, as mulheres afegãs enfrentam a todo instante o preconceito intenso voltado exclusivamente ao gênero.
O que há muitos anos atrás se chamava de sexo frágil, conquistou gradativamente seu espaço em uma região extremista. No entanto, com o retorno do Talibã ao poder, a perseguição e violência contra as mulheres as impede de trabalhar, estudar, ter livre escolha sobre a vestimenta, obrigando-as a usar a busca e a se submeterem inteiramente aos homens.
A perseguição e o controle das mulheres é um dos principais propósitos do Talibã, que faz uma interpretação radical da lei islâmica. Desde então, houve a restrição de todos os direitos das mulheres, sejam eles sociais, econômicos ou profissionais. Mas como em todo acontecimento histórico há um ato de bravura, o destaque da vez foi da afegã Rabia, de 35 anos, que nos últimos dias, decidiu enfrentar o medo que sentia do novo governo e retomar o posto de trabalho que exercia no aeroporto de Cabul.
Foi então que a mãe de três filhos decidiu superar todas as barreiras ao vestir seu paletó azul, fazer a maquiagem e enfrentar as consequências. Na oportunidade, ela disse que tem consciência sobre os riscos de sua decisão, sobretudo após o atentado suicida durante a retirada de estrangeiros e afegãos que tentaram fugir do país durante a tomada de poder do Talibã.
Rábia presta serviços no terminal da GAAC desde 2010, empresa cuja sede está situada nos Emirados Árabes Unidos, especializada em oferecer assistência e gestão de segurança. Diante da importância do cargo, a afegã explicou que não teve outra escolha ao arriscar a vida voltando a trabalhar. Ela ainda justificou a atitude em virtude da necessidade de manter as despesas e atender às necessidades da família.
Ela disse que vivia nervosa e com medo, sem ânimo, até mesmo, para falar. Mas que ao voltar para o trabalho, ela passou a se sentir melhor. Rábia é uma das pouquíssimas mulheres afegãs autorizadas pelos fundamentalistas islâmicos a retornar ao trabalho. Esta permissão foi concedida somente às trabalhadoras do aeroporto de Cabul.
No entanto, o medo é tanto que, das mais de 80 trabalhadoras do aeroporto de Cabul, apenas 12 concordaram em voltar ao trabalho. Rábia é uma delas, e não é a única que teve medo de retornar ao trabalho, a irmã dela, Qudssiya, admite o choque ao saber da retomada do Talibã ao poder do Afeganistão.
A mãe de cinco filhos é o único sustento da casa, e após diversos conselhos para se manter reclusa, decidiu enfrentar o medo junto da irmã e voltar a exercer o cargo.
Em resposta, o Talibã declarou que não há com o que se preocupar, pois irá respeitar todos os direitos das mulheres que foram vedados durante a primeira gestão entre 1996 a 2001. Outro passo significativo foi dado pelo Talibã, que permitiu o retorno das mulheres às universidades, desde que usem o véu completo e em classes distintas dos homens, mesmo que a divisão ocorra somente por uma cortina.
A representante da ONU Mulheres no Afeganistão, Alison Davidian, declarou que apesar de o Talibã assegurar o respeito aos direitos das mulheres, os relatórios diários apresentam um retrocesso em comparação às promessas feitas.