Enquanto BMW, Volkswagen e Toyota Motor já paralisaram os trabalhos nas fábricas russas e suspenderam o envio de remessas ao país como parte de um recuo mais amplo de gigantes corporativos, ocasionado pelo conflito do país com a Ucrânia, a Renault permanece visivelmente quieta.
Devido às sanções econômicas impostas pelo ocidente, como forma de retaliação à invasão dos russos à Ucrânia, a empresa francesa já perdeu mais de um terço de seu valor de mercado em apenas duas semanas.
O motivo pelo qual a Renault continua em silêncio
O principal motivo para o silêncio da montadora francesa é que a Rússia é o segundo maior mercado da Renault, que está pagando um alto preço pelo acordo de US$1 bilhão tratado com um importante aliado do presidente russo, Vladimir Putin.
Com isso, o controle majoritário da Renault sobre a AvtoVaz, fabricante da Lada na era Soviética, e a dependência do mercado russo, são motivos de preocupação para os investidores.
Uma ruptura nos laços entre o país e a empresa teria um custo tremendo, outrora uma recessão econômica mais forte no continente europeu rechaça qualquer possibilidade de recuperação econômica da empresa.
Para entender melhor a dependência da montadora ao mercado russo, vamos aos números. Segundo dados da própria empresa, a Rússia respondeu por cerca de 5 bilhões de euros da receita da empresa.
Entendo o acordo entre as duas partes
Em 2007, Vladimir Putin, já presidente, ditou o acordo inicial da Renault para uma participação de 25% na AvtoVaz com o ex-líder Carlos Gosh. O acordo foi apoiado pela França e liderado por Chemezov. Além disso, o acordo também foi facilitado pela amizade de Putin com o CEO da Rostec, os dois eram vizinhos na Alemanha, quando Putin era oficial da KGB.
A dependência da AvtoVaz do mercado doméstico significa que uma profunda crise econômica ocasionaria sérios problemas. Historicamente, ao passo que a Rússia vivia tempos de recessão, a AvtoVaz foi fortemente deficitária.
Fundada em 1966, quando a Rússia ainda fazia parte da União Soviética, a AvtoVaz comandava mais de 80% do mercado na era comunista, e essa grande participação continua até hoje.
Plano de recuperação
As perspectivas de melhoria nos últimos anos para a montadora faziam parte do plano de revitalização do CEO da Renault, Luca de Meo, para o grupo. Ele imaginou um modelo de negócio altamente lucrativo para as marcas de carro mais econômicas, como a Lada e Dacia, com processos de fabricação e tecnologia compartilhados.
Em menos de um ano após o investimento inicial, a crise financeira viu o valor da AvtoVaz despencar e Putin pressionou a Renault a vir a seu socorro.
Desta vez, a guerra em curso entre Rússia e Ucrânia, representa uma ameaça mais séria para a montadora, principalmente pela possibilidade de uma crise mais profunda que pode reverberar além das fronteiras russas.
Além disso, vale lembrar que a recuperação da Renault tem como base a recuperação de todo setor automobilístico europeu e quanto mais tempo essa crise durar, maior são as chances de uma recessão mais severa.