A política no continente sul-americano sempre foi algo complexo. Afetados por influenciadores externos e por lideranças internas vinculadas a interesses pessoais ou locais, os políticos do continente parecem viver uma nova era de dificuldades.
A crise era previsível
As democracias sul-americanas surgiram após anos de Ditaduras Militares. Em muitos casos, as constituições nacionais ainda são aquelas produzidas pelos regimes de exceção, como no caso chileno.
Em 2019, diversas manifestações sacudiram o território chileno, algumas delas geraram conflitos violentos entre manifestantes e tropas enviadas pelo governo. Houve mortes e muita tensão, mas o povo chileno conseguiu sucesso na sua reivindicação de construir uma nova constituição.
Diferente do que se passou na nação vizinha, no Peru a situação difícil parece se eternizar e não há um fim previsível. Desde a queda de Pedro Paulo Kuczynski em 2018, que renunciou após sólidas de denúncias de corrupção, a vida política peruana se tornou uma obra de literatura fantástica.
Diversos ex-presidentes da nação andina foram acusados de terem recebido recursos irregulares da construtora brasileira Odebrecht, deixando o país desprovido de lideranças sólidas com capacidade de organizar uma solução para a crise política que parece não ter fim.
A origem da crise
O vice-presidente do país, Martin Vizcarra assumiu o cargo prometendo ao povo e ao Congresso Nacional uma série de reformas constitucionais e políticas, visando combater a corrupção que assola o Peru, e o resto do continente.
Martin Vizcarra convocou um referendo para que o povo votasse na sua reforma, que atacava justamente o Congresso Peruano, proibindo a reeleição dos representantes do povo. Tal decisão já acirrou os ânimos da classe política, mas a situação começou a colapsar no fim de 2019, quando o presidente dissolveu o legislativo e convocou novas eleições. Nas quais nenhum dos congressistas que o atacavam poderia participar.
Após muitas tensões, Vizcarra venceu, elegeu-se um novo congresso e nada mudou. A crise institucional se aprofunda mais a cada semana e o povo peruano protesta, mas sem muitas esperanças, manifestando-se mais contra que a favor, em virtude das poucas esperanças de uma verdadeira mudança.
Novos capítulos
Desde setembro, Martin Vizcarra, agora ex-presidente do Peru, vivera sob acusações de ter praticado um ato ilícito em prol de um amigo que realizou vantajosos contratos com um Ministério de seu governo. O Congresso Peruano tentou afastar Vizcarra do cargo através da figura constitucional da “vacância presidencial por permanente incapacidade moral”.
O então presidente reagiu a esse pedido, mostrando ao Tribunal Constitucional que Manuel Merino, presidente do Congresso Nacional, fez uso indevido da figura constitucional da “vacância por incapacidade moral”. O que contribuiu para retardar os planos de Merino foi a comprovação de que ele estava dialogando com lideranças militares sobre um possível afastamento de Vizcarra da presidência da República.
No dia 09 de novembro Martin Vizcarra foi afastado do cargo máximo da política peruana, mas o problema parece não ter fim. Manuel Merino, responsável pela queda do então presidente, assumiu a presidência da república, mas não durou uma semana no cargo.
No dia 15 de novembro, após grandes manifestações contra o seu curto governo, Manuel Merino não resistiu e renunciou. Duas pessoas morreram nos protestos, e o povo peruano conheceu o seu terceiro presidente no período de apenas uma semana. Terminando o ano de 2020, as boas notícias estão em falta na terra de Mario Vargas Llosa.